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Breve comentário sobre o novo Novo Ensino Médio

O novo Novo Ensino Médio traz alguma diversidade de escolha para os alunos. Mas, mantido o rigor acadêmico, deveria haver muito, muito mais. Mais diversidade, mesmo nas disciplinas da formação geral básica, que deveriam ser oferecidas em níveis e formatos diferentes para atender a demandas diferentes.

A partir do Ensino Médio, é preciso que estudantes tenham escolhas – acadêmicas e/ou profissionais. Todas são igualmente dignas e o ensino direcionado a cada uma delas deve ser oferecido com rigor e excelência, ainda que não necessariamente e não exclusivamente em escolas tradicionais, regulares.

Pessoas que defendem a mesma carga horária, o mesmo formato, nas mesmas escolas e com um mesmo currículo para todos os estudantes do Ensino Médio argumentam que todos precisam ter boas noções de História do Brasil, Geografia política, álgebra, etc.

O problema é que essas noções básicas obrigatórias já deveriam ter sido aprendidas. A real: o que um singapurense médio de 14 anos sabe de matemática, o atual brasileiro médio de 15 não aprenderá nunca, independentemente do currículo que lhe seja imposto no Ensino Médio. Com ou sem escola em tempo integral.

É preciso lembrar que o PISA é aplicado a estudantes de 15 anos; ou seja, àqueles que estão no *começo* do Ensino Médio. O melhor desempenho dos estudantes dos países de excelência educacional se deve, portanto, ao que aprenderam no Ensino Fundamental. E note que em muitos desses países, pelo menos metade dos estudantes que terminam o Fundamental vai para o Ensino Técnico – a Holanda, por exemplo.

Considere matemática. A gente sabe que a maioria dos alunos brasileiros chega ao Ensino Médio com o conhecimento absolutamente defasado. Que se ofereçam então três níveis de matemática para que alunos com níveis diversos de atraso consigam aprender alguma coisa.

Língua Portuguesa: conforme o nível de alfabetismo funcional, currículos diferentes. Pode-se ensinar o básico com excelência e ter resultados. Ou pode-se ensinar em um nível um pouco mais avançado e fingir que acredita que os alunos estão aprendendo.

Se um professor ensinasse uma disciplina no seu nível básico, com rigor acadêmico e sem perder tempo com indisciplina, ele conseguiria ajudar a resgatar muita gente. Gente que, após aprender o básico, poderia, mais adiante se recuperar do atraso e seguir avançando. E quem já está à frente não teria que ser puxado para trás porque, para esses, haveria níveis mais avançados no próprio Ensino Médio.

Mas é claro que algo assim sequer passa na cabeça dos especialistas em “educacão”. Eles querem equidade. Ou seja, eles querem que todos tenham resultados iguais a partir de um currículo igual. E, como sabemos, só há uma forma de garantir isso: nivelando tudo por baixo, exigindo pouco de todos e aprovando automaticamente aqueles que nem esse nível mais baixo conseguem alcançar.

É ideal ter alunos semianalfabetos no Ensino Médio? Para nós que queremos estudantes educados, claro que não. Mas essa é a realidade planejada pelas pessoas que pensam a “educação” brasileira. Os mesmos que propuseram o novo PNE. São as diretrizes impostas por eles que garantem que estudantes cheguem ao Ensino Médio sem o mínimo de numeracia e literacia. Não é acaso: é estratégia.

Tal como o Ensino Médio está posto, são poucas as chances de cada aluno atingir (ou se aproximar do) seu potencial, mas, evidentemente, as pessoas que planejam a “educação” brasileira não estão preocupadas com isso. Muito mais glamouroso é pagar uma mesadinha para os mais pobres com o dinheiro alheio – inclusive (ou principalmente) – com o dinheiro dos pais desses mesmos pobres.

Melhor ainda que esses alunos não aprendam nada porque, assim, seguirão dependendo do Estado e eles, os virtuosos especialistas em “educação” alegarão que os recursos foram insuficientes para melhorar o aprendizado. Precisaremos pagar mais. É o que eles chamam de “justiça social”.

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Por Anamaria Camargo 28/03/2024