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Lucros com investimentos em Educação: pelo fim do preconceito e da hipocrisia

A revolução industrial não trouxe somente avanços tecnológicos. Antes dela, ter que trabalhar para viver era algo desprezado pelas elites. Trabalhar como comerciante era visto como indigno de respeito. A literatura inglesa está plena de narrativas deste preconceito. Um dos exemplos mais notórios está no romance Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Nele, a personagem principal é tratada de maneira sarcástica e pedante, entre outras razões, por ter um tio comerciante. Esse tio, um homem bom e digno, é desprezado pela elite por ganhar a vida fazendo negócios, ao invés de ganhar seu dinheiro do jeito “certo”: herdando de um parente rico.

De lá para cá, muito mudou e, pelo menos nos países desenvolvidos, já não há tanto preconceito contra empreendedores, inovadores, gente que faz fortuna através de ideias revolucionárias e negócios. Desde que… esse negócio não seja educar crianças. Por incrível que pareça, ainda existe hostilidade e forte preconceito quando o produto que se vende é Educação. Um exemplo é Reed Hastings, o fundador e CEO da Netflix. Quando completou a universidade, Hastings juntou-se ao Peace Corps e foi para a Suazilândia dar aulas em escolas. Nos anos 90, antes de lançar a Netflix, Hastings fez cursos de pós-graduação na área de Educação porque ele queria entender porque as escolas não avançavam no mesmo ritmo que outras invenções humanas têm avançado. Desde então, Hastings já doou milhões de dólares a entidades filantrópicas educacionais, mas decidiu não começar ele mesmo um negócio educacional. Por que não? Porque não queria que as pessoas pensassem que ele estava fazendo isto pelo dinheiro.

Ou seja, caridade para a Educação é bem-vinda, mas capacidade empresarial para a Educação  em grande escala, para os mais pobres, ainda é vista como inaceitável. Algo de que se envergonhar. Claro que as pessoas que têm esta visão são aquelas que podem pagar pela educação dos seus. É bastante cômodo criar constrangimento para quem quer empreender na área quando não se depende desses empreendedores para ter acesso à Educação de qualidade. A mesma hipocrisia reinante na Inglaterra dos romances de Jane Austen prevalece até hoje quando o assunto é Educação. Desperdiçam-se milhões de dólares em filantropia mal gerenciada, paternalista e hipócrita. Ao invés de investir em empreendedores, gente que quer mudar a realidade e lucrar com as mudanças, direcionam-se recursos para governos que supostamente os empregarão em Educação pública. O que acontece, no entanto, é que a maior parte desses recursos se perde em má gestão e corrupção.

É difícil imaginar o quanto os mais pobres já perderam por causa desse preconceito. Inovações são movidas pela vontade de transformar a realidade e pelo desejo — legítimo — de lucro. São essas inovações, bancadas pelos mais ricos, que ao longo do tempo têm trazido avanços em todas as áreas: medicina, agricultura, comunicações, etc. Produtos caros precisam de pessoas com condições de bancar os riscos de empreender. A partir daí, novas versões surgem, mais baratas e acessíveis a uma maior população. Nada disso acontece sem a perspectiva de que haja compensação pelo risco que se corre ao empreender. Os mais pobres não têm como bancar esses avanços. A eles só resta esperar que quem tenha dinheiro não seja impedido de tentar por  simples preconceitos e hipocrisia das elites.

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Por Anamaria Camargo 30/11/2017